O QUE ESTÁ NOS TORNANDO GORDOS
(o texto abaixo foi gentilmente cedido pelo nosso amigo Moysés Veiga do site http://www.vidasustentavel.bio.br, que estará em manutenção até o dia 16/12/12)
A
sabedoria convencional nos diz que o ganho ou perda de peso está no modelo de
“calorias para dentro, calorias para fora”, que geralmente se resume no refrão
“coma menos, se exercite mais”. Mas uma nova pesquisa revela que a equação é
muito mais complexa do que parece, e vários outros fatores estão em jogo.
Pesquisadores
de um campo relativamente novo estão olhando para os químicos industriais e
aspectos não calóricos das comidas que influenciam no ganho de peso. Os
cientistas que estão conduzindo essa pesquisa acreditam que essas substâncias,
presentes em muitas comidas, podem estar alterando a maneira como nossos corpos
armazenam gordura e regulam nosso metabolismo. Mas nem todos concordam. Muitos
cientistas, nutricionistas e médicos acreditam no modelo do equilíbrio
energético.
Bruce
Blumberg, professor de biologia na Universidade da Califórnia, estuda o efeito
dos poluentes orgânicos que são altamente usados pela indústria dos agrotóxicos
e nos sistemas de água. Os compostos organoestânicos “mudam a maneira como
nosso corpo responde às calorias”, ele afirma. “Os que nós estudamos, o
tributilestanho e o trifenilestanho, geram mais, e maiores, células de gordura
nos animais expostos. Aqueles que tratamos com esses químicos não têm uma
alimentação diferente do que aqueles que não engordam. Eles estão comendo
comida comum, mas estão ficando mais gordos”.
Um
estudo muito comentado de janeiro trouxe mais lenha para essa discussão: ele
confirmaria a crença no modelo do equilíbrio energético, e foi citado por muitos
pesquisadores que trabalham no campo. Quando o autor do estudo, George Bray,
foi questionado a respeito dos aditivos e ingredientes industriais em nossa
comida, ele afirmou que “não faz diferença alguma. As calorias contam. Não há
dados que comprovem o contrário”.
Os
participantes do estudo de Bray receberam quantidade baixa, normal e alta de
proteína, além de mil calorias a mais do que o necessário. O estudo não levou
em conta o conteúdo e a forma das calorias, como foram processadas, ou quais
aditivos ou químicos industriais estavam presentes.
Bray
não acredita que aditivos ou a maneira como os alimentos são processados pode
afetar o resultado do estudo. De fato, ele completou uma pesquisa em 2007, que
ele se refere como “o estudo Big Mac”, com os participantes recebendo três
refeições por dia, durante três dias, com um grupo comendo apenas itens como o
Big Mac, e outro comendo apenas “comida caseira”. Bryan diz que o resultados
não revelam nenhuma diferença: “Pelo menos nos quesitos como tolerância à glicose,
insulina, e outros, não houve diferença. Agora, se você os alimentar por um
período maior, é claro que a quantidade vai influenciar muito”.
Outro
estudo, realizado pela Universidade de Princeton, indica que o tipo da caloria
importa. Os pesquisadores descobriram que ratos que bebiam xarope de milho, com
muita frutose, ganhavam mais peso do que aqueles que bebiam água com açúcar,
mesmo que o número de calorias fosse o mesmo. Os primeiros animais também
exibiram sinais de síndrome metabólica, como ganho de peso anormal,
especialmente gordura visceral ao redor da barriga, e aumento significativo dos
triglicérideos.
Miriam
Bocarsly, autora principal do estudo, afirmou: “A questão das calorias para
dentro, calorias para fora, é muito boa e muito debatida no campo. Mas nós
temos esse resultado que aconteceu com ratos. Algo é obviamente diferente entre
o xarope e a água com açúcar, mas o que será?”.
Blumberg
comenta que a frutose, por si só, já é um obesógeno. “A frutose cristalizada
não existe na natureza, nós estamos fabricando isso”, afirma. “A frutose não é
comida. As pessoas pensam que ela vem da fruta, mas não. A que comemos é
sintetizada. Sim, é derivada da comida. Mas cianeto também vem da comida. Você
chamaria ele de comida?”.
O
neuroendocrinologista Robert H. Lustig também acredita que a frutose é um
elemento relacionado à obesidade. “Eu pessoalmente coloco a frutose nos
obesógenos. Como a frutose engana o cérebro para que coma mais, ela possui
propriedades consistentes para a obesidade”, diz.
Lustig
é outro, entre os pesquisadores e médicos, que enxerga o modelo do balanço
calórico como falso. “Eu não acredito nesse modelo, centralizado nas calorias”,
comenta. “Acredito no do depósito de gordura, que é centrado na insulina. A
razão é que, ao alterar a dinâmica da insulina, você pode mudar o consumo
calórico e o comportamento relacionado às atividades físicas. Isso tem sido
minha pesquisa pelos últimos 16 anos”, conta. A ideia de Lustig é que, ao
aumentar a circulação de insulina – geralmente um resultado do consumo
exagerado de frutose – as pessoas ficam mais esfomeadas e cansadas, o que
resulta em excesso de alimentação e falta de motivação para se exercitar.
Outro
possível elemento obesógeno é o bisfenol A (BPA), encontrado em muitos
alimentos e materiais de embalagens. O professor Frederick S. vom Saal, da
Universidade de Columbia/Missouri, vem estudando isso.
O
Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou que quase todos os
americanos testados tinham BPA na urina, “o que indica que há grande exposição
da população ao BPA”. Algumas marcas já se pronunciaram, e planejam parar de
usar o produto nas latas e embalagens dos alimentos.
Vom
Saal acredita que o BPA é apenas o exemplo mais proeminente das várias
substâncias presentes em nossa comida que podem nos deixar obesos. “Se as
pessoas realmente querem resolver a obesidade, diabetes, e doenças
cardiovasculares, não é inteligente ignorar um contribuinte como esse. E nós
não estamos obesos apenas por causa do BPA. Também sei que a nicotina e outros
químicos influenciam na diabetes e nas doenças metabólicas”.
Se
a teoria dos “obesógenos” for aceita, a indústria da comida estará com
problemas. Seria difícil promover alimentos diet e “saudáveis” que podem ter
menos calorias, mas contém uma série de substâncias que podem contribuir para o
aumento de peso.
A
ênfase que a indústria coloca nas escolhas pessoais põe o ônus no individuo, e
deixa o consumidor com difíceis decisões para fazer sobre os produtos e
aditivos industriais. E os produtos não vêm com essas substâncias listadas, já
que não é obrigatório.
“As
pessoas dizem para mim o tempo todo: ‘O que eu faço?’”, comenta vom Saal. “E a
resposta é, não há muito que fazer, porque a indústria não é obrigada a te
contar sobre esses químicos. Como evitar algo que você não enxerga?”.
O
modelo do equilíbrio energético também coloca a responsabilidade no consumidor,
porque a sabedoria convencional é de que as pessoas comem demais.
Será
que podemos continuar essa discussão simplesmente em termos de calorias ingeridas?
Ou olhar apenas para as categorias tradicionais, como gorduras, proteínas e
carboidratos, e lacticínios, carnes, grãos e vegetais? Como há uma proliferação
de poluentes industriais nos alimentos ultraprocessados, muitos especialistas
acreditam que não.